JUSTIFICATIVA


Ao optar pela fundamentação teórica dos Estudos Culturais/Pós-Coloniais, bem como do Comparativismo, para embasar este projeto, tenho plena convicção de que a crítica feminista padece de uma visada ainda plena de essencialismos, uma vez que foi incapaz de estudar o gênero, levando em conta também outros fatores importantes para o seu delineamento como classe e etnia, quando reivindicava o mesmo, pensando a diferença. Entretanto, o potencial do desconstrutivismo derridariano, que serviu de base para os primeiros estudos feministas, nos anos sessenta do século passado, ainda constitui uma ferramenta potente a subsidiar pesquisas que ampliem o enfoque da representação do feminino em produções de cultura. E ver a representação feminina contextualizada ampliou sobremodo o foco de análise, na medida em que esse tem condições de tratar questões, antes pouco explicadas e indissociáveis, como identidade-nação-gênero-classe-etnia. Tal ênfase ganha sustentação na atualidade, quando valoriza produções de cultura, que rasuraram o constructo simbólico ocidental, ao presentificarem as relações de gênero com marcas de um hibridismo étnico-cultural, caracterizador da nação brasileira. A literatura baiana, não sendo mais a porta voz da nação, nos moldes impostos pela modernidade, possibilita a ambivalência narrativa e a descontinuidade entre passado-presente, fazendo com que a enunciação torne-se disjuntiva, abrindo espaço para a implosão do conceito de identidade, sendo exemplo de narrativa suplementar da nacionalidade, que acrescenta sem somar (DERRIDA, 1967).
Assim, a memória nacional, incluindo nesta a figura feminina, deve sempre contemplar o hibridismo de histórias e o deslocamento de narrativas, enquanto representantes da diferença cultural, sob pena de reforçar o continuísmo historicista, pois as narrativas das comunidades imaginadas (ANDERSON, 1991), sob o olhar etnocêntrico, privilegiavam o mesmo e menosprezavam a cultura local; reduzindo-a à carência, à falta. Neste sentido, vejo a cultura como metáfora alternativa, como entendimento efetivo, na medida em que o simbólico passou a ser aceito de maneira consistente e concreta em relação ao social e o enfoque simplista do materialismo dialético de que a infra-estrutura determina a super-estrutura  não pode mais ser aceito. Isso porque, a construção de cada limite fundava-se no exercício arbitrário do poder cultural, da simplificação e da exclusão, pautados em uma tradição ou formação canônica, em uma clausura hierárquica, contraditória em si mesma (HALL, 2003).
A pesquisa trabalhará para a promoção de textos híbridos de autor e das receitas culinárias da Bahia, agenciadores de nossa heterogeneidade cultural, na medida em que as várias interpretações passadas acerca da brasilidade estiveram comprometidas com pré-conceitos, em discursos que legitimaram a exclusão, em relação a países de economia ascendente, como o Brasil. Assim, a presente pesquisa intenta descortinar uma espécie de diáspora de sentido (HALL, 1997), que não sendo migratória, como ocorreu com povos na história da humanidade, a exemplo, do judeu, do africano,... ainda assim, constitui uma diáspora em trânsito, só que de discursos, propostos pelo colonizado, em forma de resistência/negociação, desde as primeiras produções de cultura, no século XVII.
Então, o projeto Coisas do gênero: patrimônio e cultura, ora apresentado, ao eleger, para pesquisa, as relações de gênero, classe e etnia, nas produções literárias do baiano Jorge Amado, em que a mulher aparece elaborando alimentos,  almeja valorizá-la pelo seu grau de inserção em um contexto híbrido sócio-econômico-cultural do Brasil, enquanto resposta contra-hegemônica do colonizado ao enunciado do colonizador. Nesse processo, o entre-lugar discursivo tem sua fundamentação e não pode deixar de opor-se às idéias fora do lugar (SCHWARZ, 1981), uma vez que essas ainda estão ancoradas em uma forma de pensar em pares opositivos, norteadores da modernidade. Obras literárias utilizadas são: AMADO (1979),  (1992),  (1998), (2002);  O referencial teórico está assentado em: ANDERSON (1991); BASSNET (1993); BHABHA (1998); CANCLINI (2000); CARDOSO (1999); COUTINHO (2003); GEERTZ (1978), (1997); NITRINI (2000); SANTIAGO (1976), (1978); SCHWARZ (1981); SOUZA (2002); YUDICE (1991). Devo registrar que outras contribuições sobre o tema serão, evidentemente, incluídas, como, por exemplo, as obras já citadas nas referências bibliográficas.    

 

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JUSTIFICATIVA

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