Desde a Antigüidade, a ciência histórica, reunindo
documentos e fazendo deles testemunhos, superou os limites do século abrangido pelos
historiadores, que dele foram testemunho oculares ou auriculares. A formação de
arquivos e de bibliotecas, forneceu assim os materiais da história.
Porém, do mesmo modo que se fez no século a XX a crítica
da noção de fato histórico - por resultar da construção do historiador -,
também se faz atualmente à crítica da noção de documento, entendido como o
poder da sociedade do passado sobre a memória e o futuro: “o documento é
monumento” (LE GOFF:1994).
A palavra latina monumentum remete a raiz
indo-européia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito
humano, a memória (memíni). De acordo às suas origens filológicas, o
monumento é tudo o que pode evocar o passado e perpetuar a recordação.
O conceito de documento, que a história tradicional reduzia
aos textos e aos produtos arqueológicos, foi ampliado. Hoje, os documentos
abrangem inclusive a palavra, o gesto. Constituem-se arquivos orais; são
coletados etnotextos.
Além disso, foram reconhecidas ‘realidades’ históricas
negligenciadas pelos historiadores, nasceu uma história das representações.
Entre suas diversas formas está a história das produções do espírito, ligada à
imagem, ou história do imaginário, que permite tratar o documento literário e o
artístico como documentos históricos, sob a condição de respeitar sua
especificidade.
A conservação e a restauração de artefatos com valor
histórico-artístico, é assunto que interessa a muitos países e tem preocupado
vários especialistas, no século XX. O acervo arquitetônico - templos,
fortalezas, conjuntos residenciais de várias épocas e diferentes estilos levou
professores e autoridades da Europa, a partir do século XIX, a debates sobre
conservação, restauração, proteção, intervenção, reconstrução, revitalização de
imóveis que representem valor artístico e testemunho hístórico-social.
Duas grandes correntes nasceram, uma defendendo a noção
de que se deve colocar o monumento em sua unidade estilística de origem, e
outra defendendo a noção de que deve conservar todas as mudanças pelas quais o
imóvel passou em sua existência.
Foi somente na segunda metade do século XIX que as
escolas de Arquitetura criaram cursos de pós-graduação para arquitetos
restauradores, que atualmente incluem conteúdos programáticos como: paisagem
histórica, metodologia de conservação de monumentos, museologia,
aerofotogrametria, utilização de edifícios antigos, técnicas especiais e
legislação. (PELLEGRINI: 1997).
No entanto, a noção moderna de patrimônio cultural não se
restringe à Arquitetura, a despeito da indiscutível presença das edificações
como um ponto alto de realização humana.
Atualmente, o significado de patrimônio cultural é muito
amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humanos -
esculturas, pinturas, textos escritos (feitos à mão ou impressos), variadas
peças de valor etnológico, arquivos e coleções bibliográficas, desenhos de
sentido artístico ou científico, peças significativas para o estudo da
ergologia de um povo ou de uma época; o que no conjunto se poderia definir como
o meio ambiente artificial.
Cultura é a expressão do modo de pensar, sentir, agir e reagir de um indivíduo, comunidade ou nação. Manifesta-se na relação social através de culto, culinária, indumentária, arte, artesanato, arquitetura (NEVES 1997).
À priori, todo objeto que, à primeira vista, pode parecer
não possuir nenhuma importância, é passível de ser interpretado
museologicamente mercê de sua carga informativa a respeito de determinada
cultura. É, portanto, um bem cultural merecedor de tratamento e conservação
adequados, com seu valor para o conhecimento de pormenores de uma região, de
uma época, de um estilo de vida.
Como exemplo podemos alinhar alguns casos: a
indumentária; túmulos; desenhos e fotografias documentais (de paisagens, de
famílias, de eventos); culinária regional; filmes; gravação de lendas, de
músicas e de outras manifestações orais documentando também a fala regional;
coleção de jornais (espelhando a vida da comunidade onde foram editados) e
imagens religiosas.
Estes bens móveis, devem ser considerados paralelamente
aos bens imóveis: igrejas, fortes militares, sedes de fazendas, conjuntos
arquitetônicos, cidades inteiras - interessando que sejam todos e cada um a seu
modo representativos da cultura em que estiveram ou estão inseridos.
Segundo Eunice Durham (apud ARANTES: 1984):
O homem é um animal que constitui, através de sistemas simbólicos um ambiente artificial no qual vive e o qual está continuamente transformado. A cultura é, propriamente, esse movimento de criação, transmissão e reformulação desse ambiente artificial
No permanente processo cultural em que estamos inseridos,
é importante o registro tanto de facetas passadas como de atuais, integrantes
do complexo sociocultural. O conceito de patrimônio cultural, que tradicionalmente
nos remete ao passado histórico, esquece, por vezes, que nossa produção
presente constituirá o patrimônio cultural das futuras gerações.
É importante reconhecer o caráter de continuidade dessa
produção dentro do processo histórico de desenvolvimento. Os traços culturais,
contendo um valor simbólico no contexto da sociedade em que ocorrem, devem ser
tratados e registrados como bens patrimoniais.
De acordo com Carlos Lemos (1981), preservar não só
guardar um objeto, uma construção, a parte histórica de uma cidade antiga.
Preservar também é gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas.
Preservar é manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes populares. E
fazer levantamentos de sítios variados, de cidades, de bairros, de quarteirões
significativos dentro do contexto urbano.
Devemos, então, garantir a compreensão de nossa memória
social preservando o que for significativo dentro do vasto repertório de
elementos componentes do Patrimônio Cultural.
Portanto, modernamente, se compreende por patrimônio
cultural todo e qualquer artefato humano que, tendo um forte componente
simbólico, seja de algum modo representativo da coletividade, da região, da
época específica, permitindo melhor compreender-se o processo histórico.
Quanto a artefatos arquitetônicos, recomenda-se
contemporaneamente a preservação preferencial de conjunto e não de uma
edificação isolada.
Assim se coloca o
problema das cidades e bairros antigos que acabam constituindo uma verdadeira paisagem
histórica. Representativas da globalidade de uma época, essas paisagens vem
testemunhar que a História já não é somente a descrição cronológica de fatos
políticos; ilustram a constância das preocupações das gerações entre si;
constituem, enfim, valores simbólicos para a consciência coletiva da humanidade (PERRIN: 1978)
Diante desta constatação e compreensão a Universidade
Estadual de Santa Cruz UESC, não pode omitir-se na busca das raízes da
concepção e das formas de expressão da comunidade que a construiu e constrói,
faz-se necessário desenvolver estudos que permitam conhecer a realidade
histórica de cada grupo a lhe permitir maior conscientização como ser histórico
e cidadão e ao mesmo tempo socializar para outros grupos os vestígios de sua memória
de forma lucrativa e preservacionista.
A região de influência da Universidade Estadual de Santa
Cruz possui uma história muito rica e que pouco cuidou de se preservar e cuja a
realidade a UESC ainda está por conhecer.
Essa região, por hoje, se constitui um pólo catalisador
da região, um pólo de mudanças que a UESC, através do seu Centro de
Documentação e Memória Regional - CEDOC e do seu curso de graduação e
Pós-Graduação em História com ênfase em História Regional tem procurado fazer a
interlocução entre ela e as várias comunidades regionais.
A destruição da
memória afeta não apenas o passado, como também o futuro. Para mim, a memória é a forma mais alta da
Imaginação Humana, não apenas a capacidade automática de recordar. Se a memória
se dissolve, o homem se dissolve (Octávio Paz - escritor mexicano. Prêmio
Nobel de Literatura de 1990).
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Diagnosticar a atual realidade dos municípios que
integram a área de atuação, através de um inventário geral do que existe em
termo de Patrimônio Histórico-Cultural com potencialidade turística, como está
sendo explorada, o que há para ser explorado e já está detectado, as condições
de acesso, as condições locais oferecidas para o desenvolvimento das
atividades, a importância que está sendo dada pelos poderes públicos e pela
iniciativa privada.
Objetivos
Específicos:
• Proceder
levantamento arquitetônico de edifícios de cunho histórico, artístico e
cultural.
• Cadastrar
fontes documentais de fundo arquivístico.
• Resgatar a memória
iconográfica do município.
• Resgatar a
História da Cidade através do depoimentos de seus moradores.
• Incentivar a
implantar de órgãos preservadores da memória tais como arquivos, museus,
memoriais, etc.
METODOLOGIA
O projeto será desenvolvido nas microrregiões litorâneas
Sul e Extremo Sul da Bahia, regiões na área de inserção da Universidade
Estadual de Santa Cruz -UESC. O projeto incluirá as cidades onde haja potencial
turístico em desenvolvimento ou a desenvolver, conforme a vocação do local.
A região litoral Sul estende-se do município de Valença
ao de Canavieiras, compreendendo as Costas do Dendê e do Cacau, com 10 (dez)
municípios a serem pesquisados. A região Extremo Sul, constituída pela Costa do
Descobrimento e da Baleia, compreende os Municípios de Belmonte até Mucuri.
Em cada município inicialmente serão realizadas as
seguintes etapas:
• Levantamento
bibliográfico a respeito da sua história
• Sensibilização
do curso de História, Memória, Cultura e Cidadania;
• Pesquisa em
livros da Câmara Municipal e do Poder Executivo e no livro do Tombo da igreja
local;
• Cadastramento do
Patrimônio Histórico-Cultural local;
• Cadastramento
para formação de rede de depoentes da memória local.
Outra vertente de importância vital para o projeto será o
mapeamento da documentação existente nos arquivos de Salvador, referente a
história do município. Arquivos a serem pesquisados: Arquivo Público da Bahia,
Arquivo da Cúria Metropolitana e Instituto Histórico e Geográfico.
Pretende-se informatizar todo o levantamento utilizado o
soft mirus, organizando-o em arquivo iconográfico, reunindo toda
a documentação visual disponível sobre o município.
Arquivo arquitetônico: contendo todo o levantamento
das edificações de interesse histórico e artístico.
Arquivo documental: visa guardar o
cadastramento dos documentos manuscritos ou impressos em papel e estará
subdividido em:
a) fontes eclesiásticas
b) fontes culturais
c) fontes jurídicas
d) fontes políticas
Arquivo de referência; destinado a complementação dos
demais arquivos com o seguinte conteúdo:
a) Bibliografia de obras escritas ou publicadas sobre o
município;
b) Índice das entidades culturais e científicas
existentes no município;
c) Índice dos templos e casas de cultos religiosos
existentes no município;
d) Índice dos estabelecimentos de ensino.
No decorrer da pesquisa poderá ser
organizado um mini-curso sobre a História do município, visando a socialização
dos resultados, assim como sensibilização da população para uma maior
cooperação e conscientização da sua identidade e de sua cidadania.
Outra estratégia a ser adotada será
organizar uma Exposição da Memória Municipal, temática ou genérica de acordo
com o material colhido. O material exposto poderá ser o embrião de um museu,
centro de documentação ou outra instituição do gênero.
Pretende-se mapear as fontes
documentais locais e organizar um banco de dados, afim de subsidiar ações de
caráter preservacionista, ou seja criação de museu, arquivo ou centro de
documentação e tombamento de acervos. Assim como fornecer informações
necessárias para a exploração turística do patrimônio histórico-cultural
detectado.
CONCEITOS
MONUMENTOS- obras
arquitetônicas, de escultura ou pintura monumentais,
elementos ou
estruturas de caráter arqueológico, inscrições, cavernas e grupos de elementos
que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da História, da
Arte ou da Ciência.
CONJUNTOS- grupos de construções,
ilhadas ou reunidas, cuja arquitetura, unidade e integração na paisagem lhes dê
um valor universal excepcional do ponto de vista da História, da Arte ou da
Ciência.
LUGARES- obras do
homem ou obras conjuntas do homem e da natureza,
assim como
zona incluindo sítios arqueológicos que tenham um valor universal excepcional
do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.
BENS
CULTURAIS- os bens móveis e imóveis de grande importância no
patrimônio cultural de cada país ou região, tais como as obras de arte, os
manuscritos, os livros e outros bens de interesse artístico, histórico ou
arqueológico, os documentos etnológicos, os espécimen-tipos da flora e da
fauna, as coleções científicas e as coleções importantes de livros e arquivos,
incluindo arquivos musicais.
Fonte: Conferência
Geral da UNESCO / Reunião de Paris (1972)
Nota- alguns
estudiosos consideram que o patrimônio cultural (bens da natureza) se integra
no contexto cultural, e portanto não há necessidade de separar o natural do
cultural. De qualquer modo, todavia, as conceituações da UNESCO estabelecem os
dois tipos.
LEVANTAMENTO
DO PATRIMÓNIO HISTÓRICO-CULTURAL DE ILHÉUS - O OUTEIRO DA PIEDADE
A cidade de Ilhéus, fortemente marcada pelas presenças do
coronel, do jagunço e de imigrantes estrangeiros e nacionais na sua formação
social, dispõe de fantástica riqueza cultural, a reciclagem do poder
oligárquico e a decadência da lavoura cacaueira, não modificaram,
significativamente, esses traços predominantes.
Os valores culturais não se impõem por si próprios, não nascem com o indivíduo, não são produtos da natureza, mas decorrem de ação social (MENEZES: 1996).
Essa dimensão de cultura, como resultantes do
‘condicionamento inconsciente’, transmitida através das gerações, é a que
interessa a esse trabalho.
Nos ensina a máxima francesa que: “Ia culture c’est
qui rest quand on a tout oubllé” (a cultura é o que resta quando
tudo se esquece). Foram-se os coronéis, os jagunços, os imigrantes tornaram-se
verdadeiros ‘grapiúnas’, mas o espectro do cacau permanece no imaginário da
região.
Ainda não se pensa Ilhéus sem associá-la à saga dos
valentes e poderosos coronéis com Sinhô e Juca Badaró, ou à audácia e destemor
de jagunços como lnuri e Cajango, ou ainda a sensualidade e beleza da mulata
Gabriela.
Hoje, a cidade de Ilhéus vive um momento que se
caracteriza por uma realidade extremamente complexa e dinâmica que requer, além
de um planejamento contínuo, uma maior eficácia da gestão, o que implica numa
cultura política pautada em participação.
A cidade é singular, com história e identidade próprias,
mas plural em suas relações e manifestações. De acordo com Jordi Borja (1996):
Ao se elaborar projetos de cidade é importante mobilizar os atores urbanos públicos e privados, construir e/ou modificar a imagem que a cidade tem de si mesma e a que dela se tem no exterior.
Estamos vivendo uma época positiva no sentido do resgate
da história de nossa cultura. A tendência em se considerar as experiências
passadas como repertórios perdidos tem dado lugar à vontade de conservar a
memória de nossos costumes e de nossas instituições.
A compreensão da estrutura da cidade e atitudes, tais
como a concepção abstrata do espaço, edifícios de épocas diversas, a paisagem e
as tentativas por estabelecer uma regularidade além dos limites que a geografia
exige, fazem com que tentemos conhecer, construir, inventar sua imagem.
A cidade se encontra marcada pela presença do homem que, enquanto
constrói, adapta os velhos padrões às novas exigências, projetando ao futuro
experiências do passado.
O homem que nasce e
mora na cidade quer uma cidade que seja âmbito do reconhecimento e da memória;
do enraizamento e da tradição; do encontro e da evasão; mas também da fantasia
e do devaneio (OS TERMANN: 1997).
A cidade vive de lembranças. Para Victor Hugo, a cidade é
um livro de pedras. Podemos comparar as imagens de uma cidade com as páginas de
um livro que, depois de serem manuseadas por muitos leitores, vão apresentar
rasuras, trechos apagados ou até mesmo ausência de folhas.
Este texto que é a cidade, não é o simples relato de
imagens percebidas, já que sua leitura vai se processar, muitas vezes de
aproximações dirigidas pela imaginação. Imaginação essa que, em Ilhéus, é
acionada pela ficção de renomados autores, principalmente a obra dos escritores
Jorge Amado e Adonias Filho.
Assim sendo, a imagem da cidade não é simplesmente o que
percebemos, porque ela é também lembrança e imaginação. Com a memória é
possível conferir significados e criar imagens a partir daquelas que existem no
presente. Reconstruímos o passado como páginas impressas de um livro.
Para que o passado possa ser recuperado, ele tem que se
conservar no meio material que nos rodeia. Através dos seus fragmentos, a
cidade pode ser captada como uma história construída de razões e sentimentos,
desenhados por imagens que explicitam diferentes leituras. Conseqüentemente, a
cidade pode ser considerada a morada da memória.
São muitas as máscaras de uma cidade e, sem dúvida, são
muitos os ‘tempos’ que podem habitar nela, onde várias fisionomias se
apresentam falando de épocas diversas. A cidade é um processo de continuidades
e descontinuidades, como podemos observar na diversidade de edificações, de
espaços, de imagens que nos abrem uma via do passado.
Então o tempo se torna visível, ativando a memória e
inserindo-se na história, fazendo possível que a cidade viva a dialética do
passado e do presente, através das provocações de suas imagens. Ainda segundo
Ostermann (op cit) a memória e a história são a evolução da vida urbana, a soma
do passado, o presente e a projeção do futuro, que, em formas de imagens, fazem
com que a cidade se mantenha viva.
Walter Benjamin, ao pensar cidade, criou uma metodologia
capaz de ver “um mundo todo nos detalhes do cotidiano” e aproximou-se de George
Simmel quando este sociólogo concebeu a cidade como uni fato cultural, um
caldeirão de experimentos (RAMINELLI:1 997).
Dessa forma, a imagem de uma cidade é construída, também,
por imagens que nascem de seus moradores e sua relação com o lugar habitado. E
é essa relação que facilita a abertura da percepção, da imaginação e da
fantasia.
CONJUNTO
ARQUITETÔNICO DA PIEDADE
CONVENTO NOSSA SENHORA DA PIEDADE
O convento da Piedade foi fundado em 1916 por freiras
Ursulinas, tendo à frente a madre Maria Thaís do Sagrado Coração Paillart,
Provincial da Ordem no Brasil. A obra atendeu aos apelos do primeiro bispo de
Ilhéus, Dom Manuel de Paiva, que deseja um estabelecimento de educação
religiosa na cidade.
As obras da instituição religiosa foram iniciadas com
planta de Salomão da Silveira que, apesar de não ser engenheiro formado, esteve
à frente do projeto, Nessa parte mais antiga localiza-se o portão de entrada e
a área destinada à reclusão das freiras, estando em sua parede externa a imagem
de Santa Ângela de Merici, fundadora da Ordem.
O número crescente de alunas internas e externas obrigou
madre Thaís a ampliar as instalações do convento, com a construção de um novo
pavilhão financiado por um empréstimo concedido pelo arcebispo da Bahia, d.
Jerônimo Tomé, que deu forma definitiva ao prédio.
Um dos pontos mais pitorescos do convento da Piedade é a
gruta de Nossa Senhora de Lourdes, encravada nos restos de uma pedreira
existente no local, que serviu para as obras de construção dos seus edifícios.
No lado exterior do convento foram erigidos dois
monumentos homenageando a memória de duas de suas fundadoras:
Uma estátua
em mármore de Santa Terezinha, erguida no ano de 1938 por ocasião das bodas de
prata de profissão religiosa da madre Teresa do Menino Jesus. E, um monumento
de mármore negro, encimado por um busto em bronze de madre Thaís do Sagrado
Coração, mandado erguer após a sua
a sua
morte no ano de 1955 por ex-alunas do convento, como um gesto de gratidão pelos
seus serviços prestados à cultura regional.
Existe no convento da Piedade um pequeno museu organizado
pelas freiras ursulinas, contendo objetos de uso pessoal de Madre Thaís do
Sagrado Coração, imagens sacras, peças de arte, indumentárias e o antigo
mobiliário, organizado nas salas do edifício principal do convento.
Com a catalogação do acervo foram identificados os
seguintes itens:
LOCAL- Sala
dos Troféus
-Mobiliário: 8 (oito) cadeiras e 1 (hum) sofá para duas
com assento de palhinha e encosto estofado.
-Centro de
madeira e mármore.
-Imagem do
Amor Materno /1925 (49 x 33 cm).
-Cristaleira
(2,06 x 1,10 cm).
-Jogo de
porcelana contendo:
2 (dois) pares de xícaras marca China-BIau Rosslau
7 (sete) pratos, 2 (duas) travessas e 1 (uma) fruteira
marca Copeland Latespode.
-Escrivaninha
de madeira (1,15 x 1,07 cm).
-Relógio pertencente
à madre Thaís / 1945.
-Cabideiro
de madeira e alças de metal (2,04 x 0,63)
-2 (duas) arcas de madeira (0,74 x 1,27 cm) e (0,94 x
0,98 cm).
-Cristaleira
(1,94 x 0,80 cm).
-Crucifixo (0,15 cm).
-3 (três) cantoneíras de madeira (0,85 cm) e (2- 1,16 cm)
LOCAL- Salas da Frente
-Quadros: Dom Manuel de Paiva, Dom
Eduardo Herberhold, Madre Teresa, Madre Thaís, Imagem do Sagrado Coração,
Professores e professorando em 1923.
- 12 (doze)
cadeiras de palhinha.
- Sofá de palhinha (2,20 x 1,00 cm).
- Centro de madeira e mármore (1,16 x 0,80 cm).
- Cômoda de madeira e mármore (0,96 x 1,10 cm).
- Piano.
LOCAL- Corredor
-Quadros: Santa Ângela (grafite), Símbolos das Ursulinas,
do Brasil e de Ilhéus (0,93 x 0,70 cm).
-Tapeçaria (primeira missa no Brasil).
-Cristaleira (1,74 x 0,67 cm)
LOCAL- Sala da Direção
-Imagem de Nossa Senhora de Fátima (0,95 cm).
-Vaso de prata (0,46 cm).
-Cristaleira de madeira (1,50 x 0,68 cm).
-Imagem de Nossa Senhora da Piedade com coroa de ouro
(0,28 x 0,20 cm)
-Mesa de madeira (2,00 x 0,79 cm)
-7 (sete) cadeiras de madeira.
-Escrivaninha (1,39 x 1,00 cm).
-Console de madeira (1,07 x 0,82 cm).
-Console de madeira e mármore (1,00 x 0,64 cm).
-Console de madeira e mármore (0,72 x 0,84 cm).
-Certificado emoldurado / 1934.
-2 castiçais de madeira e vidro (0,42 cm).
-Escrivaninha (1,40 x 1,13 cm).
-Imagem de Joana d’Arc (0,46 cm)
-10 (dez) cadeiras de palhinha.
-Cristaleira
(1,88 x 0,74 cm)
LOCAL- Sala do
Altar
-Primeiro
altar do convento.
-4 (quatro) vasos de prata.
-2 (dois) castiçais de prata.
-Nicho de
madeira e vidro / 1930 (1,36 x 0,55 cm).
-Crucifixo
de madeira e prata /1920 (1,06 cm).
-Castiçal de
madeira / 1930 (2,00 cm).
-Nicho de
madeira e metal / 1925 (1,15 cm).
-2 (dois) paramentos romanos bordados.
- Console de
madeira e mármore (0,82 x 0,83 cm)
- Console de
madeira e mármore (1,10 x 0,89 cm).
- Imagem de
Joana d’Are (1,22 cm).
- Altar de
madeira (2,15 x 0,58 cm).
- Catecismos
ilustrados: 1910/ 1911 / 1952 / 1955.
Atualmente, estamos acompanhando o trabalho de prospecção
catalogação do acervo documental do convento da Piedade levado a termo pelo
professor Ramaina Vaz vargens, coordenador de projetos especiais da
instituição.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE
No ano de 1927, Salomão da Silveira, licenciado em
arquitetura, inicia o estudo do projeto da capela de Nossa Senhora da Piedade,
com adaptação da planta encomendada na França por Madre Thaís do Sagrado
Coração. Até então, o culto religioso era celebrado numa das salas do primitivo
pavilhão do convento.
A obra da capela de Nossa Senhora da Piedade, concluída
no ano de 1929, esteve a cargo do engenheiro italiano Hugo Bozzi.
A capela construída em estilo gótico, possui um aspecto
interior que impressiona. Ali se casam perfeitamente a pureza e a sobriedade
das linhas e a harmonia das cores.
O piso da capela é de ladrilho de cerâmica bordada e as
suas colunas são revestidas em mármore. Os seus belos vitrais, dispostos para a
perfeita iluminação do interior do templo, retratam as “Sete Dores de Maria”.
As pinturas existentes e a tela do altar-mor foram executadas por Salomão da
Silveira, que foi ainda o modelador da imagem do Coração de Jesus na parede
externa da capela.
O acervo sacro da capela de Nossa Senhora da Piedade é
formado pelas imagens de Santa Ângela (1,20 cm); do Coração de Jesus e São
José, em estilo neoclássico, situadas em nichos nas laterais do altar-mor.
Imagem de Santa Ângela de Merici, fundadora da Ordem das Ursulinas,
localizada na capela Nossa Senhora da Piedade
PALÁCIO
EPISCOPAL
A Diocese de São Jorge dos Ilhéus foi criada pela Bula
Pontíficia Majus animarum bonus, do papa Pio X, a 20 de outubro de 1913.
O primeiro bispo de Ilhéus, Dom Manuel Antonio de Paiva, tomou posse da Diocese
no ano de 1916.
No ano de 1917, o fazendeiro José das Neves César Brasil
e sua esposa Adelaide Schaun Brasil, doaram ao patrimônio da diocese o chamado
Alto das Quintas. Grande parte desse terreno foi posteriormente repassado por
Dom Manuel de Paiva as freiras Ursulinas, que aproveitaram o local para a
construção do convento e colégio da Ordem religiosa na cidade.
As obras de
construção do palácio, que primitivamente serviria de residência oficial aos
bispos de Ilhéus, foram iniciadas entre os anos de 1928 e 1929 sob a
responsabilidade Salomão da Silveira. Idealizado em estilo neoclássico, o
palácio episcopal possui um forte apelo turístico. A sua parte frontal está de
frente para o Atlântico, numa das mais belas vistas panorâmicas do litoral
baiano.
No ano de 1931 o segundo bispo de Ilhéus, Dom Eduardo
Herberhold, doou o palácio ainda em construção, e seu terreno, para as freiras
ursulinas do convento da Piedade, ficando incorporado ao patrimônio da Ordem.
Desta data em diante, os custos da construção foram
arcados pelas freiras ursulinas. Com a conclusão das obras, o palácio foi
transformado no orfanato Santa Ângela para meninas pobres. Posteriormente, com
a morte do seu benemérito, o orfanato recebeu o nome de Dom Eduardo.
Conseqüência da pujança econômica da cultura cacaueira, o
complexo arquitetônico da Piedade traz em si todo o arcabouço de uma época hoje
quase mítica, a do fruto de ouro.
CONJUNTO
ARQUITETÔNICO DA VITÓRIA
IGREJA DE NOSSA
SENHORA DA VITÓRIA
A igreja de Nossa Senhora da
Vitória possui a tradição de ser um dos mais antigos templos católicos do
Brasil. Segundo o Orbe Seráfico, de Jaboatão, o templo erguido em meados do
século XVI, tem sua origem ligada ao início dos confrontos armados entre os
colonos de Ilhéus e nação Aimoré.
Ao se apoderarem de Porto Seguro, os
aimorés estenderam seus ataques à zona rural de Ilhéus, destruindo engenhos e
plantações, famílias inteiras foram dizimadas.
A reação dos colonos se deu em
repetidas entradas preadoras que conseguiram afastar os aimorés para as matas
interiores. A vitória sobre os aimorés foi atribuída à intervenção de Nossa
Senhora das Neves, padroeira da vila dos Ilhéus e venerada numa ermida ao pé da
atual ladeira da Vitória. Achando-se o templo danificado, os moradores deram
início a fundação de um novo no alto da mesma elevação.
Segundo
a tradição, durante a luta as mulheres e crianças da vila, em procissão,
carregavam ladeira acima na cabeça as pedras para a obra, orando à santa
pedindo a vitória para seus pais e maridos. Alcançada a graça e acabada a
igreja, em estilo proto-barroco, colocaram nela a imagem da Senhora com o
título da Vitória, em substituição ao das Neves.
Historicamente, a igreja de Nossa Senhora da Vitória
serviu de fortaleza aos ilheenses quando dos ataques de pirata
estrangeiros à vila.
Franceses ,em 1595, e holandeses, em 1638, invadiram e
saquearam Ilhéus, forçando seus moradores a buscar refúgio na igreja, na época
situada no subúrbio da vila. No local construíam trincheiras e organizavam o
processo de expulsão dos invasores, sempre invocando a proteção da padroeira.
Graças à essas vitórias, a fama de milagreira da santa
solidificou-se, transformando a sua festa, realizada a 15 de agosto, numa das
mais concorridas pelo, tradição que se mantêm até os dias de hoje.
Em 1887 um incêndio destruiu a igreja e todas as suas
imagens, inclusive a da santa, trazida de Portugal no século XVIII em
substituição da imagem primitiva que encontrava-se estragada. A atual imagem de
Nossa Senhora da Vitória data do século XIX.
Após um período abandonada, o coronel Domingos Fernandes
da Silva custeou a sua total recuperação. A obra, concluída em 1905, modificou
completamente o seu aspecto original.
Na década de 1970, graças ao trabalho desenvolvido pelas
senhoras Catarina Lavigne de Lemos e Cremilda Maltez Bastos, auxiliadas
principalmente pelo apoio financeiro do fazendeiro Jerônimo Ferreira e pela
assessoria técnica do arquiteto Luís Osório Amorim de Carvalho, ocorreu uma
nova reforma que procurou obedecer suas linhas originais, sendo anexada uma
sacristia em terrenos do cemitério vizinho.
CEMITÉRIO MUNICIPAL
DE ILHÉUS
O primitivo cemitério da Vitória, como
é conhecido, foi mandado fazer pelo governo da Província da Bahia em 1854. O
seu terreno foi doado ao município pelo capitão Severino José da Costa e era
murado somente para os lados da igreja de Nossa Senhora da Vitória.
No
início do século XX, o cemitério encontrava-se completamente abandonado. Durante
a administração do coronel Antonio Pessoa da Costa e Silva (1912/16), o local
sofreu uma grande e importante reforma, tendo seu tamanho duplicado.
A imponência da obra, inaugurada em
1913, e a de seus mausoléus demonstra a força econômica de Ilhéus no período
áureo da lavoura do cacau. Era um dos cemitérios mais importantes do Norte do
país e sem igual na Bahia.
No cemitério da Vitória repousam os restos mortais de
grande parte dos construtores das chamada “civilização do cacau”, muitos dos quais
imortalizados pela obra do escritor Jorge Amado.
A catalogação dos mausoléus do cemitério da Vitória levou
em conta a importância histórica do indivíduo ou da família para a região e o
seu valor artístico.
Túmulo
do coronel Antonio Pessoa da Costa e Silva
Influente
chefe político da região cacaueira. Manteve-se no poder por quase duas décadas,
exercendo os cargos de conselheiro, intendente, presidente da Assembléia
Legislativa da Bahia e senador estadual.
Túmulo
da família Adami
Uma das mais tradicionais famílias do cacau, pioneira no
seu cultivo. Seus membros foram importantes chefes políticos de Ilhéus,
exercendo a chefia da oposição ao Coronel Pessoa.
Túmulo da Família Lavigne
Radicada há quase dois séculos em Ilhéus, é das mais tradicionais
do Sul baiano. Descendente de franceses vindos para o Brasil acompanhando a
embaixada
artística
mandada buscar por Dom João VI.
Túmulo de Francisco “Sinhô” Badaró
Desbravador das matas do Sequeiro do Espinho, atual
município de Itajuipe, ao lado do irmão Juca Badaró, ambos imortalizados pelos
livros “Terras do sem Fim” e “São Jorge dos Ilhéus”, de Jorge Amado.
Túmulo de Gabino Kruschewsky
Descendente
do poloneses, desbravador e chefe político da zona e do Rio do Braço, obra de
valor artístico.
Túmulo do coronel Joaquim Paiva.
Herói da Guerra do Paraguai, participou da Retirada da
Laguna, citado por Taunay como “soldado da Constancia e do valor”. Exerceu a
intendência de Ilhéus, ma implantação da República, era amigo pessoal de Deodoro
da Fonseca.
Túmulo do Doutor Cristiano Sellmann.
Médico ilheense descendente de alemães, recém-diplomado
pela Faculdade de Medicina da Bahia, foi nomeado diretor do hospital de
variolosos do Exército na campanha de Canudos, onde faleceu. Seu túmulo foi
mandado erigir pelo Comitê Patriótico da Bahia.
Túmulos dos coronéis Henrique Berbert e Ramíro Castro
Henrique
Berbert, filho de imigrante alemão, tornou-se coronel da Guarda Nacional e influente
chefe político da zona do Cachoeira. Seu genro Ramiro Castro, tornou-se um dos
mais influentes fazendeiros de cacau da Bahia. Segundo depoimento do senhor
Raimundo Sá Barretto, amigo do escritor Jorge Amado, os coronéis Castro e
Pessoa teriam inspirado o personagem Ramíro Bastos de “Gabriela, cravo e
canela”. O túmulo do coronel Castro possui uma bela e imponente estátua de
mármore branco.
(Túmulo de Misael Tavares)
Conhecido como o “rei do cacau”, foi o maior produtor individual
do mundo em sua época. É um dos vultos de maior importância na história
contemporânea de Ilhéus. Graças aos seus empreendimentos Ilhéus transformou-se
numa das principais cidades do Norte do Brasil no início do século XX O seu
túmulo, verdadeira obra de arte em mármore e bronze, assinada pelo artista
italiano Chirico, traduz materialmente o poder dos coronéis e simboliza a
cultura da região.
Túmulos
Gêmeos da Família Fernandes
São os mais antigos mausoléus do cemitério da Vitória,
erguidos pelo coronel Domingos Fernandes no final do século XIX, considerado o
segundo maior capitalista de Ilhéus na fase áurea do cacau, sendo ultrapassado
apenas por Misael Tavares.
IGREJA MATRIZ DE SÃO JORGE
A matriz de São Jorge, originária do século XVII, possui
relevante importância arquitetônica e histórica. As características típicas do
período, são a sua torre em forma de pirâmide e a existência de dois nichos
laterais ao arco do cruzeiro.
No início do século XX , a igreja de São Jorge teve a sua
sacristia direita demolida para o alargamento da praça Rui Barbosa, portanto a
sua planta primitiva era em forma de 1, outra característica do século XVII.
Jorge Maltiera (1972) afirma que, em meados do século XVIII
a matriz sofreu uma reforma na sua fachada, consistindo na construção do atual
frontão e na transformação de duas janelas laterais em portas.
Na década de 1950 a sua arquitetura, em estilo barroco,
sofre uma agressão com a construção por ordem do bispado, de um salão paroquial
com laje de concreto anexa à parede lateral direita.
Em 1970 foram inauguradas as obras de sua restauração,
financiada por uma campanha pública idealizada pelas senhora Catarina Lavigne
de Lemos e Cremilda Maltez Bastos. As obras tiveram orientação técnica e
artística do arquiteto Luís Osório Amorim de Carvalho.
Foram catalogadas as seguintes peças do seu acervo:
-Imagem de São Jorge, fim do século XVI / início do
século XVII.
-Imagem de Nossa Senhora do Rosário, século XIX, coroa de
prata do século XVIII.
-Imagem de
São Pedro, fim do século XVIII, em estilo neoclássico.
-Imagens de
Santo Antonio, Santo lnácio e São Caetano, século XVII.
-Imagem do
Cristo em madeira, século XVII, em estilo rococó.
-Arcaz de
madeira, fim do século XVIII.
-Mesa de
saía, século XVIII, estilo Dom José.
-Cálice-custódia
de prata dourada, século XVII.
-Lâmpada de
prata do Santíssimo, século XVIII.
-Pia
batismal de mármore Breccia, século XVII.
-Lápide de
pedra, século XVI.
-Imagem do
Menino Jesus, século XIX.
CAPELA DO
ENGENHO DE SANTANA
Os mais antigos vestígios materiais da época da
colonização portuguesa no litoral Sul e Extremo Sul da Bahia são monumentos
religiosos.
A capela de Santana, situada no distrito do Rio do Engenho,
data do século XVI e é considerada o templo católico mais antigo do Brasil
erguido em zona rural.
A Antigüidade do edifício é comprovada pela sua planta em
T, formada pela nave e capela-mor, flanqueada por sacristias, típica da
arquitetura jesuítica do século XVI. Esta planta, ainda que incompleta com uma
só sacristia, foi utilizada pelos jesuítas nas capelas do Colégio e do Divino
Espírito Santo (Vale Verde), no século XVII, de São João Batista (Trancoso) e
Nossa Senhora das candeias (Camamu), no século XVIII.
Capela rural de singular interesse arquitetônico, sua
origem está ligada ao histórico engenho de Santana erguido no século XVI
governador-geral Mem de Sá, cujas terras foram doadas pelo primeiro donatário
da capitania dos Ilhéus, Jorge Figueiredo.
No ano de 1563, as terras do engenho e todos os seus
pertences foram doados pela condessa Linhares, filha de Mem de Sá, ao colégio
jesuíta de Santo Antão, em Lisboa.
Com a expulsão dos padres jesuítas do Brasil, a coroa
portuguesa alienou o patrimônio pertencente à Ordem. Entre os proprietários do
engenho de Santana, encontra-se Felisberto Caldeira Brant, o marquês de
Barbacena.
Segundo Reis (1979) e Campos (1981), o engenho de Santana
era o mais importante da região e utilizava centenas de braços escravos, origem
de significativas revoltas nos período de 1789 a 91 e 1821 a 28, esta última
exemplo único de rebelião negra com reivindicações por escrito feitas pelos
negros.
No início do século XIX o engenho é permutado em
fazendas, pelos Sá Bittencourt Câmara, importante família da região cacaueira,
originária de Minas Gerais. Membros desta famílias estão enterrados nas terras
do engenho, como atesta um cruzeiro em frente à capela de Santana
A capela de Santana é feita de pedra e cal com campanário
e alpendre de pedra de cantaria, O púlpito e o coro são de madeira. A fachada é
marcada pela presença do copiar, sobre o qual existe um óculo central.
Na sacristia existem nichos e uma janela conversadeira. O
altar não possui maior significação, mas conserva a imagem da Senhora de
Santana. O seu acervo sacro é completado pelas imagens de São Benedito e Senhor
dos Passos.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento socio-econômico do município do litoral
Sul e Extremo Sul da Bahia envolve, necessariamente, o incremento do ecoturismo,
despertado pelos fartos recursos paisagísticos disponíveis e o turismo
cultural, estimulado pelo vasto patrimônio histórico-cultural preservado.
Com a intensificação da atividade turística na fruição de
bens culturais, históricos e paisagísticos, o desenvolvimento regional
sustentável exige sistemático planejamento e definição do modelo de gestão para
evitar a predatória massificação. Para tanto, é necessário a implantação de um
planejamento regional e gestão turística participativa.
Em última instância, bens, patrimônios e valores são apenas formas por onde perpassam as relações humanas. As Transformações sociais esperadas pelo paradigma da sustentabílidade devem combinar as disposições de autonomia e iniciativa da organização social das comunidades, com a sua participação nos programas e projetos de desenvolvimento (STROH: 1995)
No que se refere especificamente ao município de Ilhéus,
a principal questão gira em torno do princípio da sustentabilidade. As ações em
prol do desenvolvimento sócio-econômico e cultural do município devem buscar:
a- Mobilizar a população para a preservação e manutenção
da estrutura original da cidade ainda conservada, restaurando-se, através de
órgãos competentes, prédios urbanos e rurais que materializem a memória local,
destinando-os para fins sociais como centros de cultura, artesanais, comerciais
e de serviço, gerando postos de trabalho.
b- Implantar arquivos para depositar,
restaurar e conservar documentos públicos e particulares disponibilizando-OS
para a pesquisa. O Arquivo Público da Bahia dispõe de setor e técnicos
especializados para esse fim e assessoramento a iniciativas do gênero.
c- Reativar o museu regional do cacau,
para preservar e cultivar a memória local, expondo acervo representativo do
cotidiano comunitário, para fins educativos e turísticos. Acompanhamento de
técnico especializado para sanar datação das peças deste e de outros museus
regionais.
d- Inserir os conjuntos arquitetônicos
da Piedade e Vitória no roteiro turístico oficial da cidade.
Na próxima etapa do projeto será
elaborado um folder de caráter turístico, para servir de guia para visitantes e
agentes turísticos.
TRABALHOS APRESENTADOS
Título- Alto da Piedade: um roteiro
turístico — Ilhéus/Ba
Local- Cana Brava Resort Hotel / Ilhéus
Data- Abril/1998
Título- Patrimônio
histórico-cultural de Ilhéus: Complexos arquitetônicos
Local- UESB / Vitória da Conquista
Data- Abril/1998
Título- História e cultura no Outeiro
da Piedade
Local- UESC / Ilhéus
Data- Maio/1998
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Durval
Vieira de. Descrições Práticas da Província da Bahia. Rio de Janeiro: INL, 1979.
ALMEIDA, Guilherme
Albagli de. Algumas notas sobre a evolução urbana de Ilhéus. Ilhéus: O Ateneu, 1994.
ARANTES, Antonio
Augusto (Org). Produzindo o passado. São Paulo:
Brasiliense/CONDEPHAAT,
1984.
BAHIA. Secretaria
de Indústria, Comércio e Turismo. Inventário de Proteção do Acervo Cultural /
IPAC-Ba. Monumentos e sítios do litoral Sul. Salvador, 1988, v.5.
BARBOSA, Carlos R.
Arléo. Notícia histórica de Ilhéus. Rio de Janeiro:
Cátedra,
1981.
BARROS, Francisco
Borges de. Memória sobre o município de Ilhéus. Prefeitura Municipal de Ilhéus,
1981.
BORJA, Jordi. As
cidades e o planejamento estratégico. ln: FISCHER, Tânia (Org). Gestão
contemporânea, cidades estratégicas e organizações locais. Rio de Janeiro: FGV,
1986.
BRITO, Raimundo
de Souza. O livro de Ilhéus. Rio de Janeiro, 1923.
CAMPOS, João da
Silva. Crônicas da capitania de São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Conselho
Federal de Cultura, 1981.
CAVALCANTE, Clóvis.
Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo:
Cortez, 1995.
HEINE, Maria
Luiza. Passeio histórico pela capitania de São Jorge dos Ilhéus. São Paulo:
GRD, 1994.
LE GOFF, Jacques. História
e memória. Campinas-SP: UNICAMP, 1994.
LEITE, Serafim 5.
J. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: INL, 1945, v.5.
LEMOS, Carlos A.
C (Org). O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 1981.
LIPIELLO, Sérgio.
Ilhéus, análise de uma cultura. Itabuna: CoIorpress, 1996.
MALTIERA, Jorge.
Yayá Bahia meu bem: legendas do século. Gráfica editora do livro, 1972, v.1.
MELLO, J. S.
Barboza de. Ilhéus, o maior centro cacaueiro do Brasil. Ilhéus: Gráfica
Industrial E. de Piro & Com, 1927.
MENEZES, Ulpiano
Bezerra de. Os usos culturais da cultura. ln: YAZIGI, Eduardo et ali. Turismo:
espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1996.
NEVES, Erivaido
Fagundes. Dimensão histórico-cultural. Salvador: Companhia de Desenvolvimento e
Ação Regional - CAR, 1997.
OSTERMANN, Erika. O
tecido da reminiscência. Salvador: A Tarde Cultural. 17/Maio/1997.
PELEGRINI, Américo.
Ecologia, cultura e turismo. Campinas-SP: Papirus, 1997.
PERRIN, Jean-Bernard. O exemplo francês de proteção,
remanejamento e da valorização do patrimônio histórico urbano. Restauração e
revitalização de núcleos históricos. (Palestra proferida no Rio de Janeiro,
1978).
RAMINELLI, Ronald. História urbana. ln: CARDOSO,
Ciro & VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
REIS, João José dos. Resistência escrava em Ilhéus: um
documento inédito. Anais do Estado da Bahia, n0 44,1979.
ROSÁRIO, Milton & BRANDÃO, Artur. Estórias da história de Ilhéus.
Salvador: SBS, 1970.